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Como uma tragédia familiar inspirou um bilionário a investir em vinhos

Em Franschhoek, vilarejo próximo ao Cabo Ocidental da África do Sul com charme do século 17 e vistas de cartão postal das Montanhas Drakenstein, fica a L’Ormarins, propriedade de 1.300 hectares pertencente a Johann Rupert. É a porção maior da Anthonij Rupert Wine, império vinícola do bilionário sul-africano. 

Passando de carro ao lado de uma escultura de Rodin no jardim e de cavalos igualmente esculturais nos gramados, ele chega de bom humor à propriedade. É uma manhã de fevereiro, época da vindima. Decorado com conforto, seu escritório fica num dos edifícios mais novos da propriedade. A adega de tintos foi projetada de modo a se assemelhar aos mecanismos internos de um relógio (metáfora apropriada para Rupert, que fez fortuna como presidente da Richemont, empresa suíça de joias e artigos de luxo que detém marcas como Cartier, Piaget e Van Cleef & Arpels).

Rupert, de 65 anos, pertence àquele substrato dos estratosfericamente ricos para quem o silêncio é valiosíssimo. Ele raramente dá entrevistas, mas é inegavelmente tagarela quando a conversa é sobre vinho. Pelas janelas do escritório veem-se fileiras de Chenin Blanc, casta muito difundida na África do Sul, e que se compara à do Vale do Loire.



“A Chenin Blanc é uma uva que, se manuseada da forma correta, dá um vinho ótimo de beber”, diz Rupert, muito bronzeado e fumante compulsivo. Com patrimônio líquido de quase 6 bilhões de dólares, ele nunca subestimou o valor de um bom cliente. “Olhando as pessoas, eu diria que há bebericadores e bebedores. As pessoas que misturam uma salada e bebericam um pouco de Sauvignon Blanc são provavelmente as mesmas que, no passado, bebiam spritzer. Não são bebedoras de vinho, e não é esse o meu ramo. Quero gente que ame vinho.”

Como administrador da Richemont e de sua vinícola, Rupert entende naturalmente a concorrência para conquistar clientes exigentes. Sabe-se que muitos homens ricos compram vinícolas como forma de ressaltar seu sucesso, da mesma maneira que compram equipes esportivas ou estúdios de cinema. O que esse pessoal que usa vinícolas como troféus não tem e Rupert tem é uma ligação íntima com suas uvas: a vinicultura é muito mais do que um passatempo caro — é algo profundamente pessoal. O dono original da Anthonij Rupert Wine era seu irmão mais novo, Anthonij, que morreu em um acidente de carro em 2001, aos 50 anos. “Ele era meu melhor amigo”, diz Rupert, “e eu quis terminar o sonho dele”.

Ansioso por transformar a visão do irmão em realidade, Rupert ampliou substancialmente as operações, acrescentando centenas de hectares de vinhedos mais ao norte e ao oeste — e logo ao lado também, após comprar terras da Graham Beck, cujo vinho espumante foi usado nas posses de Nelson Mandela e Barack Obama, pelo que consta. Quem visita a L’Ormarins e outras vinícolas próximas costuma se hospedar em um dos hotéis de campo de Franschhoek; o elegante La Residence, com diárias a partir de 530 dólares, é o melhor deles. Perto da L’Ormarins, na vizinha Stellenbosch, fica a vinícola do bilionário dos diamantes Laurence Graff, a Delaire Graff Estate, que conta com dez alojamentos luxuosos com diárias a partir de 800 dólares. Ao lado fica a Babylonstoren, cujo dono é o bilionário Koos Bekker, e que custa bem menos (a partir de 250 dólares), mas também é suntuosa.

Para alcançar uma ampla clientela internacional, Rupert vem insistindo em exportar seus produtos em contêineres climatizados, uma mudança em relação ao método de transporte usual — navios lentos que passam por temperaturas diferentes, o que pode alterar as características de um vinho. Entre as novas ofertas de sua vinícola está uma linha chamada Terra Del Capo, feita com uvas italianas em homenagem à predileção de Anthonij pelos vinhos daquele país. Em termos mais pessoais, ele aprendeu a aceitar que a vinicultura nunca teria o mesmo grau de previsibilidade que, digamos, seu negócio de relógios. “Uma vez que nós tenhamos feito o nosso trabalho corretamente”, diz ele sobre a Richemont, “não precisamos nos preocupar com seca, com granizo ou com algum inseto de que nunca ouvi falar na vida. Se você tem autoconfiança em excesso, o ramo de vinhos acaba com isso rapidamente.”

O maior sucesso de sua propriedade leva, apropriadamente, o nome do irmão: Anthonij Rupert 2007, uma mistura de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot, ao estilo de Bordeaux. (O preço também é de um Bordeaux, ou seja, mais de 100 dólares.) Em 2012, essa safra ganhou 95 pontos na classificação da bíblia do setor, a revista Wine Spectator — foi apenas o quinto vinho sul-africano a realizar essa façanha — e, naturalmente, é difícil de encontrar hoje em dia.

Um sucesso surpresa foi o Petit Verdot 2005, produzido originalmente como parte de uma combinação (conforme o costume de Bordeaux). Nos estágios iniciais, ele tinha taninos poderosos, mas, depois de envelhecido, melhorava imensamente. A equipe de Rupert decidiu engarrafá-lo e vendê-lo como vinho independente, mas não consultou o chefe. Ele não ficou decepcionado. “As pessoas ficaram loucas por ele”, diz Rupert. “Os verdadeiros amantes do vinho o descobriram.”

Um conhecido francês provou uma garrafa e levou uma caixa à França para compartilhar com amigos do ramo. “Eles disseram: ‘É impossível!’ Não conseguiam acreditar. Quer saber? Vamos começar a fabricá-lo de novo este ano, e vamos plantar um pouco mais.”

Rupert também desfruta uma próspera parceria com o barão Benjamin de Rothschild, estabelecida originalmente por Anthonij. Os vinhos Rupert & Rothschild incluem o aclamado Baroness Nadine Chardonnay. Quanto ao nome que aparece no rótulo, Rupert recorda que o barão disse apenas que “soa melhor do que Rothschild & Rupert”.

Você não verá Rupert trabalhar muito com Pinotage, a variedade que é marca registrada da África do Sul e que foi desenvolvida há cerca de um século. Para muitos vinicultores, esse cruzamento de Pinot Noir e Cinsaut (também conhecida como Hermitage) dá um vinho intragável, que evoca um estábulo. “Eu simplesmente não tenho afinidade com o Pinotage”, comenta ele. “Disse aos meus colegas: ‘Precisamos fazer vinhos que eu aprecie, porque, se eu não conseguir vendê-los, pelo menos poderei bebê-los’.”

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