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Biogás inicia círculo virtuoso


A experiência de gerar energia aproveitando o lixo orgânico de pequenos distritos poderia ser o pontapé inicial de uma rede de municípios verdes na Argentina.

Buenos Aires, Argentina, 2 de janeiro de 2011 (Terramérica).- Um movimento está sendo gerado entre os municípios argentinos que buscam resolver o destino de seus resíduos produzindo energia limpa e econômica. Mais de 650 pessoas participaram dos cursos que, desde 2006, são oferecidos pela Fundação Proteger no município de Cerrito, província de Entre Ríos, que, com seis mil habitantes, tem dois biodigestores funcionando e um terceiro em construção.

O biodigestor é um recinto sem oxigênio onde são colocados resíduos orgânicos – dejetos vegetais e esterco – para que bactérias anaeróbicas se alimentem da matéria e produzam gás metano e fertilizantes ricos em nitrogênio, fósforo e potássio. “O biogás é usado para cozinhar, na calefação e para produzir eletricidade”, explicou ao Terramérica o engenheiro Leonardo Genero, coordenador do Programa sobre Tecnologia Socialmente Apropriada da Proteger e encarregado do treinamento em Cerrito.



Dos cursos participam autoridades e técnicos municipais, profissionais, estudantes, produtores agropecuários e pessoal docente de pelo menos uma dúzia de províncias argentinas e de Bolívia, Chile, Espanha, Paraguai, Peru e Uruguai. “É um fenômeno surpreendente, que cresceu nos dois últimos anos”, disse ao Terramérica o diretor-geral da Proteger, Jorge Cappato. A questão dos resíduos orgânicos “é um assunto em que tudo está por ser feito”, acrescentou.

Além de Cerrito, já incorporaram esta tecnologia os municípios de Emilia e de Zenón Pereyra, na província de Santa Fé, e outras localidades que fazem testes com pequenos reatores. Segundo Jorge, os resíduos municipais costumam ser queimados ou depositados em lixões a céu aberto. No melhor dos casos, vão para aterros sanitários, um método destinado a evitar contaminação do solo e da água subterrânea, mas que tem riscos e é caro.

Leonardo explicou que os biodigestores podem ser construídos para uma casa particular, uma escola, um bairro ou um estabelecimento agropecuário. “A proposta do curso é para áreas rurais afastadas, sem acesso fácil ao gás engarrafado”, afirmou. Além disso, “é uma das poucas tecnologias que servem para mitigar a mudança climática por não emitir nada de gás-estufa”, ressaltou.

Na Argentina, com 40 milhões de habitantes, funcionam apenas entre 70 e cem biodigestores, segundo Leonardo. Contudo, ao contrário de cidades europeias que adotam esta tecnologia, nesta região o potencial de matéria orgânica é muito grande. O prefeito de Cerrito, Orlando Lovera, disse ao Terramérica que “a cidade está muito consciente do aproveitamento dos resíduos e do cuidado com o meio ambiente”.

Um dos biodigestores, construído por meio de convênio entre a Proteger e a Universidade Nacional do Litoral, funciona em um conjunto de casas para 300 pessoas ao lado da estação ferroviária, onde se alojam delegações esportivas e culturais que visitam Cerrito. Fornece a todas as casas combustível para calefação e para cozinhar. Outro reator funciona em um bairro semirrural e fornece gás e eletricidade para sua escola.

O terceiro, em construção, é o mais ambicioso e o que desperta maior entusiasmo local. Está projetado para utilizar resíduos orgânicos de dez mil pessoas, 68% mais do que a população atual, aquecer uma das piscinas do complexo esportivo e iluminar seus estádios. O biogás produzido não é suficiente para se autoabastecer ou substituir por completo o gás engarrafado, mas é um complemento e resolve o problema do lixo orgânico, disse Orlando.

Cerrito tem um aterro sanitário para lixo orgânico, do que poderia prescindir com o terceiro biodigestor, e uma unidade onde processa vidro, papelão e plástico destinado à venda. “O que motiva muitos outros municípios a participarem dos cursos é que o investimento necessário é muito baixo e pode ser feito com recursos próprios”, destacou Orlando.

A bióloga Viviana Granados, do município Malvinas Argentinas, em Buenos Aires, fez o curso da Proteger e conseguiu construir um biodigestor na fazenda do zoológico Yku-Huasi, na cidade Engenheiro Pablo Nogués. “Buscávamos soluções ambientais para o lixo sólido urbano”, contou ao Terramérica. Então, teve início a separação do lixo na origem e foi projetado um biodigestor para o zoológico. “A ideia era aquecer o recinto das jiboias, que precisam de calor”, disse Viviana. Como matéria orgânica é usado “o esterco de vacas da própria fazenda”.

O pequeno reator, para o qual foi usada uma velha caldeira de dois mil litros, exige uma carga diária de 50 litros de esterco. A qualidade do gás que produz “é excelente. Uma chama totalmente azul, com boa quantidade de metano”, contou a bióloga. Entretanto, este esforço não derivou em um plano maior para processar todo o lixo de Engenheiro Pablo Nogués, que tem 320 mil habitantes. De todo modo, disse Jorge, há “uma mudança de mentalidade”.

O adubo resultante é usado em hortas e viveiros municipais. E se cria consciência sobre a necessidade das reservas naturais para o ecoturismo, para gerar “empregos verdes” ou valorizar espécies autóctones para a arborização pública, acrescentou. “Os dirigentes políticos ficam muito motivados nos cursos, e pensamos em lançar, em 2012, uma rede de municípios amigáveis com o meio ambiente, que cumpram certos requisitos, compromissos e orçamentos”, acrescentou.

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