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Sem atendimento médico na Irlanda, brasileiros criam "mercado de remédios"

Uma das maiores dificuldades enfrentadas por brasileiros que vivem fora de seu país é a falta de atendimento médico. No caso da Irlanda, os imigrantes precisam comprovar salário e ter um documento chamado PPS (um tipo de registro de trabalho) para conseguir o Medical Card (um cartão médico que dá acesso ao sistema de Saúde). Para os estudantes, o serviço público de saúde atende apenas aos que forem estudar por mais de um ano. Para driblar essa situação, os brasileiros que vivem na Irlanda criaram um "mercado paralelo de medicamentos", onde vendem os produtos no Facebook para quem precisa.

Essa necessidade dos brasileiros na Irlanda surgiu por causa das leis locais, que são mais rígidas do que as tupiniquins. Muitos anti-inflamatórios, que no Brasil podem ser comprados sem prescrição médica, precisam de receita no país do norte. Como não há serviço público de saúde para não europeus, é preciso pagar por um serviço particular – uma consulta simples pode custar entre 50 euros (cerca de R$ 172) e 100 euros (cerca de R$ 343).



Para economizar esse dinheiro, os usuários optam por conseguir os remédios diretamente do Brasil. A dinâmica é simples. Quem está indo para a Irlanda publica um comentário no grupo "Classificados Dublin", no Facebook, dizendo em qual dia vai viajar e que aceita pedidos. Alguns usuários cobram a mais pelo serviço de trazer remédios do Brasil.

Como a comunidade brasileira na Irlanda é grande (cerca de 10 mil pessoas, de acordo com a imigração do país), é fácil encontrar gente se oferecendo para fazer o transporte. Os internautas costumam aceitar também outros tipos de encomendas, como de alimentos tradicionais no Brasil, mas que são caros na Europa.

A paulistana Juliana Lobo, 28, vive na Irlanda há dez meses e precisou de remédios para uma infecção. "Eu liguei para minha médica no Brasil quando fiquei doente e ela me indicou dois remédios. Mas, diferentemente do Brasil, aqui em Dublin eles são vendidos apenas com receita. Por isso eu encomendei os remédios com uma menina que encontrei no grupo do Facebook. Ela cobrou os valores dos produtos e mais 10 euros (cerca de R$ 35)", contou.

A situação contrária aconteceu com um brasileiro que chegou à Irlanda em fevereiro deste ano. Ele preferiu não se identificar, mas conta que levou do Brasil alguns medicamentos encomendados.

"Um rapaz entrou em contato comigo pelo Facebook e pediu uma caixa de remédios. Ele disse que estava com um problema no joelho e não conseguia comprar a medicação em Dublin, mas não especificou o porquê da dificuldade", disse.
Essa compra e venda de medicamentos acontece livremente, inclusive com produtos que, apesar de comuns no Brasil, são proibidos na Irlanda. Isso acontece com a medicação Nimesulida, por exemplo, que foi banida da Irlanda em 2007.

No entanto, quem realiza essa prática precisa ter cuidado. Segundo Maristela Basso, advogada especialista em direito internacional e professora da USP (Universidade de São Paulo), a "importação" pode ser caracterizada como tráfico internacional de drogas.

"Assim como de outras drogas, a venda paralela de medicamentos também pode ser considerada tráfico. Todos os remédios que entram em um país precisam de autorização para serem comercializados. Claro que, em pequenas quantias dificilmente haverá esse problema. No entanto, uma mala de viagem com grande variedade, mesmo que com apenas uma unidade de cada um, já pode despertar suspeita", explicou.

Caso seja indiciada, a pessoa teria de responder de acordo com as leis locais. Na Irlanda, a punição para tráfico internacional de drogas é de no mínimo um ano de prisão e no máximo perpétua, dependendo do caso. As informações são do Centro de Monitoramento Europeu para Drogas e Vício (European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction, em inglês).

Já quem precisa transportar muitos medicamentos para uso próprio deve providenciar uma documentação específica, com o objetivo de abafar qualquer suspeita. "O ideal nesses casos é sempre levar atestados médicos, inclusive em inglês e na língua local, para provar a necessidade dos remédios. Se possível, é importante também pedir ao consulado brasileiro que valide a documentação", conclui Maristela.

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